A geleira milenar localizada na Patagônia chilena sofreu um desprendimento de sua massa de gelo frontal neste mês, em virtude do aquecimento global. Turistas flagraram momento exato da queda de parte da geleira, veja o vídeo

Geleira pendurada Queulat

Geleira suspensa Ventisquero Colgante antes da queda de parte de sua massa de gelo frontal. Foto: Jaime Bórquez 

 

Por Jaime Bórquez

 

Se alguma vez você teve a sorte de visitar a Patagônia Norte do Chile, seguramente conheceu o Parque Nacional Queulat. São 155 mil hectares de bosques sempre verdes, onde predominam diferentes tipos de carvalho e outras madeiras nativas. É também refugio de animais, como a güinha, pouco maior que um gato, vários tipos de aves e o tímido pudú, o menor veado da terra, cuja espécie é fortemente protegida, pois, está em perigo de extinção. Quem percorre este parque com olho aguçado também percebe que praticamente todo o chão e as rochas estão cobertas por musgos, líquens e diminutas formas vegetais. A razão disto pode soar simples mas, ao mesmo tempo, muito profunda e surpreendente: é o começo da vida vegetal após a deglaciação. Ou seja, você está pisando num solo que há poucos anos estava coberto pelo gelo da ultima glaciação do planeta e a vegetação que observa é primitivíssima. Uns cinco centímetros de capa vegetal e sob ela, apenas rocha pura. Sim, a patagônia chilena é a amostra mais clara de que há uns 40 mil anos atrás, quase toda a região esteve coberta de gelo, daí que ela esteja hoje composta por milhares de ilhas, rios, cachoeiras, cascatas, lagoas e fiordes. Aliás, fiorde tem origem na palavra norueguesa fjörd, que significa um lugar onde se retirou o gelo e entrou o mar...

 

O que hoje é o Parque Nacional Queulat foi descoberto pelo capitão chileno Enrique Simpson em 1875. Ele penetrou num fiorde no navio corveta "Chacabuco" e se encontrou com uma parede de gelo que percorria vale acima por mais de 4 quilômetros, até terminar numa geleira no alto da montanha. Disso, hoje resta somente uma massa de gelo em V no pico da cordilheira, para baixo dela há apenas um lago e um violento rio que desemboca no mar. Essa geleira suspensa, principal atração do parque, é conhecida como Ventisquero Colgante, e se distingue no alto da montanha, e suas monumentais cascatas mostram sua rápida desintegração pelo calor. No pequeno salão de visitas há fotos dos anos 1960, onde a geleira ainda alcançava o lago ou leito do glacial.

 

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Na década de 60, a massa de gelo chegava até essas rochas em primeiro plano na foto. Esta fotografia foi tirada em outubro de 2019. Foto: Viagem News.

 

No Parque Nacional Queulat pode-se ter uma clara e impactante ideia da mudança que está sofrendo o planeta por causa do efeito estufa e seu aquecimento global. No dia 9 de setembro passado, o efeito estufa mostrou cruelmente, mais uma vez, que não é só conversa de cientistas xiitas ou teóricos de conspirações fantasmas. A geleira sofreu a perda de uma gigantesca massa de gelo que despencou montanha abaixo. Foi um espetáculo fantástico, quase surreal, único. Mas, que nos faz pensar que devemos tomar consciência de que nosso planeta está em perigo ou, melhor dizendo, a existência da Humanidade corre o risco de acabar por simples negligência e descaso de nós mesmos. É tempo de acordar e, claro, mudar pelo bem das gerações futuras.

 

Um grupo de turistas, que participavam de uma excursão da agência de viagens Surreal Travel ao Parque Nacional Queulat, flagraram o exato momento em que ocorreu o desprendimento da parte frontal da geleira milenar. Clique no link abaixo para ver o vídeo gravado por um integrante da agência: 

 

https://youtube.com/shorts/aIl8lNa7sWk?feature=share

 

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