Empreendedores desenvolvem roteiros turísticos para apresentar a biodiversidade e a tradição amazônica aos turistas nacionais e estrangeiros que chegam ao Estado
Em novembro deste ano acontecerá em Belém a 30ª Conferência das Partes (COP 30) da Organização das Nações Unidas, que discutirá as mudanças climáticas e que atrairá pelo menos 50 mil turistas, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas. Além das delegações dos países membros da ONU, a conferência reunirá pessoas de todo o mundo. Para quem vem de fora do Brasil, o estado é uma referência sobre a Amazônia.
Para acolher esses turistas e oferecer uma experiência amazônica única, o setor de turismo, com o apoio do Sebrae do Pará, desenvolveu roteiros e qualificou os agentes. O objetivo é oferecer opções que permitam ao visitante mergulhar na riqueza da cultura e da natureza amazônicas. Para os brasileiros, a boa notícia é que não é preciso esperar até novembro para conhecer roteiros baseados na natureza, na cultura e na gastronomia paraenses.
Rubens Magno, diretor superintendente do Sebrae/PA, ressalta que “o público que visitará o Pará por causa da COP 30 é mais sensível a temas ambientais. Por isso, houve um cuidado especial em fomentar um turismo sustentável, baseado no equilíbrio entre os aspectos social, ambiental e econômico. É seguindo essa visão de promover a socioeconomia respeitando a biodiversidade e a riqueza da ancestralidade amazônica, que pequenos empreendedores do estado do Pará estão se preparando e atuando para suprir a maior demanda de seus produtos e serviços com a COP 30”, completa.
Com o apoio do Sebrae/PA, que tem promovido treinamentos e projetos de desenvolvimento comercial para pequenos empresários paraenses, empreendimentos que vão desde transporte e lazer a projetos de moda sustentável com matéria-prima amazônicas traçam um roteiro para interessados em fazer turismo sustentável em Belém e outras partes do estado, sendo exemplos de como a utilização de recursos naturais e lazer podem ser feitos de forma economicamente adequada.
Roteiros turísticos com experiências naturais, culturais e de gastronomia sustentável
O Pará, um dos maiores estados do Brasil, possui uma riqueza cultural e natural que chama a atenção. Por isso, os empreendedores de lazer são os que mais estão empolgados com o número de turistas que visitarão o estado por conta da COP 30. Em função disso, sugerem roteiros turísticos pela Amazônia paraense.
Um dos destinos na região de Belém que contou com o apoio do Sebrae/PA é para a Ilha do Marajó. Os roteiros para a Ilha são operados pela Edgar Transporte e Turismo, que trabalha com pacotes de passeios e aluguel de carros saindo de Belém. A empresa de turismo sugere experiências gastronômicas marajoaras, além da visita aos pontos turísticos da Ilha, como o Mercado Municipal e espaços de artesanato e arte local, para que os turistas tenham a oportunidade de participar do dia a dia da comunidade, vivenciando a herança cultural e a culinária local.
- Búfalo do Marajó: O roteiro saindo da Baía do Guajará, próximo a Belém, em direção à Baía do Marajó, onde os visitantes conhecem os processos da cadeia produtiva na Ilha de Marajó, tendo o búfalo, símbolo da ilha, como referência para aprender e vivenciar as tradições da comunidade local, como o queijo de búfala e os bordados com grafismos, tradição secular da ilha;
- Exploração cultural e natural | Soure: No Soure, os visitantes podem conhecer pontos turísticos tradicionais, como o Mercado Municipal, onde é possível encontrar de óleos medicinais a peixes frescos, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Consolação, além das belas paisagens e piscinas naturais de algumas das mais famosas praias de toda a ilha, como a praia do Pesqueiro, a praia do Céu e a praia de Caju – Una, que unem vilarejos de comunidades tradicionais com belezas da natureza. Soure também é uma ótima opção para curtir uma noite de carimbó, dança típica paraense.
- Moda Marajoara: Quem visitar a ilha de Marajó poderá conhecer também o Polo de Moda de Marajó que está resgatando e preservando bordados ancestrais que caracterizam o vestuário da região como, por exemplo, o trabalho feito pela marca Cañybó, que produz coleções com peças de moda feitas com produtos regionais e grafismos típicos marajoaras.
Outro roteiro que teve apoio do Sebrae/PA é a rota do cacau e do chocolate artesanal. O Pará é o principal produtor nacional de cacau, fruto nativo da Amazônia e que sustenta mais de 190 empresas dedicadas à produção artesanal de chocolate no estado, sendo 30 delas localizadas em Belém. Além da produção do chocolate, os empreendedores do cacau trabalham com aproveitamento do fruto e também produzem outros alimentos como geleia, nibs e granolas. Esses empreendedores buscam a sustentabilidade na sua produção e, por isso, não utilizam insumos químicos, mas aliam técnicas inovadoras com conhecimentos ancestrais indígenas, como o Sistema de Agrofloresta – que é aliado na mitigação de mudanças climáticas.
A qualidade desses produtos abriu mercados fora da região. É o caso da empresa familiar Cacauaré, de Belém, que negocia seus produtos com compradores em outras partes do Brasil e exporta para países como Peru e EUA. Esses pequenos empreendedores da cacauicultura são os protagonistas no roteiro do cacau paraense.
- Roteiro do Chocolate – No caminho das Ilhas | Belém: Saindo da capital paraense, os visitantes conhecem de perto essa cadeia produtiva, que se conecta diretamente com as ribeirinhas da Ilha do Combu, nas imediações de Belém. O itinerário do passeio inclui também uma trilha na plantação de cacau e visita a uma fábrica de chocolate.
- Do Cacau ao Chocolate na Transamazônica: Na região da rodovia Transamazônica do Pará, a Rota Turística do Cacau ao Chocolate mapeia produtores de cacau e fábricas de chocolate para visitação de turistas às propriedades cacaueiras. A rota começou informalmente, mas a partir de 2024 foi estruturada pelas prefeituras da região para ser uma rota operada por receptivos turísticos locais. Uma das propriedades participantes é a premiada Kakao Blumenn, que produz seu próprio chocolate e está em processo de internacionalização de seus produtos.
Já no sudeste do paraense, na região do município de São Geraldo do Araguaia, há o Roteiro das Andorinhas que, com a COP 30, também espera receber maior fluxo de visitantes, já que reúne natureza da Serra das Andorinhas, também conhecida como Parque Estadual da Serra dos Martírios, com a história do norte do Brasil, pelos remanescentes históricos da Guerrilha do Araguaia, ocorrida no Pará durante a ditadura militar.
- Roteiro Das Andorinhas: Com distância de 640 Km de Belém, o município de São Geraldo de Araguaia – o aeroporto mais próximo é em Marabá, a cerca de 160 km de distância – tem a Serra das Andorinhas, uma Área de Proteção Ambiental que possui diversas espécies de aves, além de piscinas naturais e belas cachoeiras. E além das práticas de observação de pássaros, conhecidas como birdwatching, os visitantes da primeira rota turística da região também conseguem conhecer, por visitas guiadas, narrativas históricas sobre a Guerrilha do Araguaia e podem viver as experiência gastronômica regionais, como provar o peixe tucunaré, que costuma ser consumido assado ou em ensopados.
A três horas de carro de Belém está Tomé-Açu. Nessa cidade, o Sebrae/PA apoia um roteiro de experiência histórico-cultural sobre a imigração japonesa na Amazônia, onde há a celebração das vivências e da culinária do Japão integrada na cultura amazônica. Vale lembrar que a colônia japonesa no Pará é a terceira maior do Brasil.
- Rota da Imigração Japonesa: Experiências e Vivências | Tomé-Açu: Conta com visita guiada a um templo e ao Museu Histórico da Imigração Japonesa. Os turistas também visitam uma fábrica de sucos tropicais e o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA), que é uma referência mundial em manejo porque alia produção à preservação ambiental.
Os empreendedores de pequenos negócios do Pará esperam mais destaque internacional para Belém e a Amazônia após a COP 30 e que isso traga frutos positivos a longo prazo para a economia e o empreendedorismo local, tendo os produtos e serviços reconhecidos por seu valor socioambiental. A ideia é que sirva de exemplo para outros empreendimentos paraenses, impulsionando as boas práticas sustentáveis também em outros biomas.