Por quais etapas ela passa até que seja carregada na aeronave? Como é feito o controle e a segurança? O processo todo é automatizado? Percorremos todo o caminho que a bagagem faz, desde o seu despacho até o embarque da mesma no avião

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Balcões de check-in no Terminal 3 de Guarulhos. Foto: Viagem News

 

Você chega no aeroporto e se dirige ao balcão de atendimento ou ao terminal de autoatendimento da companhia aérea com a qual vai viajar para despachar a tua bagagem. Então, você a despacha e logo surge aquela curiosidade: o que acontece com ela até que ela seja carregada na aeronave? Como é feito o procedimento todo? Quem nunca pensou nisso, que atire a primeira mala!

 

A convite da SITA – Société Internationale de Télécommunications Aéronautiques, empresa provedora global líder de TI para o setor de transporte aéreo, presente em mais de 1.000 aeroportos ao redor do mundo, visitamos o Terminal 3 do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos Governador André Franco Montoro, onde fizemos um tour pelas áreas que a bagagem percorre, desde o momento do seu despacho no check-in no balcão da companhia aérea ou no terminal de autoatendimento até o embarque na aeronave. E assim, vamos te revelar tudo o que está por trás dessa operação.

 

Carlos Sevciuc, especialista em operações e serviços da SITA, explicou que a SITA, além de ser a responsável pelas estações de check-in e quiosques de autoatendimento, gerencia a parte de mensageria que alimenta o sistema de BHS, sigla para Baggage Handling System, em inglês, ou, Sistema de Manuseio de Bagagem, em português, que compreende as esteiras inteligentes. O BHS precisa do serviço de mensageria da SITA para trafegar a mala com segurança durante todo o processo.

 

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Carlos Sevciuc, especialista em operações e serviços da SITA e Luiz Castanha, diretor de vendas da SITA. Foto: Viagem News

 

Como isso funciona? No ato da emissão da etiqueta de bagagem no check-in é gerado a BSM, Baggage Source Message, Mensagem de Início de Bagagem, na qual estão todas as informações do passageiro, como: assento, voo, data do voo, critério de segurança do passageiro, etc.. A mensagem sai do check-in e vai para o sistema DCS (Departure Control System) da empresa aérea, um sistema de controle de partidas que automatiza o processamento da operação de gerenciamento de aeroportos de uma companhia aérea. Em seguida, ela é enviada para o carrossel de mensageria da SITA em Londres, Inglaterra, chamado de Bag Message, que gerencia todas as informações de mensagens de bagagem dos aeroportos providas pela SITA. Por exemplo, uma pessoa fez o check-in de sua bagagem em Guarulhos, sai a informação da bagagem que vai para o carrossel de mensagens, o qual fica aguardando até que essa mensagem seja solicitada pelo aeroporto em questão. Quando solicitada, a SITA envia a mensagem que guiará a bagagem até seu embarque.

 

Vale lembrar que a etiqueta das bagagens são impressas por impressoras térmicas para que a leitura do código de barras seja feita com segurança.

 

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Malas sendo transportadas pelas esteiras. Foto: Viagem News

 

Assim, depois da bagagem ser despachada no check-in, ela é conduzida pelas esteiras inteligentes, controladas e monitoradas pela empresa Vanderlande, que conta com um Centro de Controle e Monitoração em tempo real de todo o percurso feito pela bagagem. “A equipe também está posicionada nos pontos estratégicos, onde a gente tem maiores incidências de alarmes, ou onde o fluxo operacional esteja maior, e através dessas estações de trabalho (no centro de controle e monitoração), a gente tem o supervisório SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition, software responsável pelo monitoramento do sistema por completo e a aquisição de dados de ocorrências, tudo em tempo real) que fazem todo esse controle, a gente também tem a parte de sorter allocation computer que é o sistema responsável pela alocação das bagagens nos voos, toda a tratativa com bagagens, malha aéreas, a gente recebe diretamente das companhias aéreas para poder alocar adequadamente toda a operação. Então, aqui são os olhos do sistema com o status dele em tempo real, explicou Matheus Siani, analista de processos da empresa Vanderlande.

 

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Matheus Siani, analista de processos da Vanderlande. Foto: Viagem News

 

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Centro de Controle e Monitoração. Foto: Viagem News

 

Primeiramente a bagagem proveniente do check-in passa por entreforros que a direciona para o equipamento de raio-x para ser inspecionada antes de qualquer direcionamento. “Aqui no Terminal 3, a gente conta com alguns níveis de inspeção e caso a bagagem seja reprovada em qualquer um deles, ela vai seguir para um novo nível, para uma nova análise, até o momento final de entrega”, esclareceu Matheus.

 

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A bagagem proveniente do check-in passa pelo entreforro para chegar à área de inspeção. Foto: Viagem News

 

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Equipamentos de Raio-X. Foto: Viagem News

 

Depois que a bagagem passou pelo raio-x ela passa pelo “arco de leitura”, um instrumento em forma de arco posicionado sobre as esteiras de bagagem e composto de diversos leitores de códigos de barras laser, que fazem a leitura das etiquetas de bagagens, identificando-as e direcionando-as para as respectivas esteiras que as conduzirão aos seus voos correspondentes. Se durante esse trajeto uma bagagem for reprovada na máquina de raio-x ou não for capaz de ser identificada por estar sem a etiqueta ou com a etiqueta danificada, inelegível, ela será desviada para outra esteira que a encaminhará para uma nova averiguação. Lembrando que no Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos existem até 5 níveis de inspeção, dessa forma, por questões de segurança, a bagagem poderá ser inspecionada quantas vezes forem necessárias até se atingir o nível máximo. No caso da bagagem conter drogas, armas de fogo, ou outras substâncias ilícitas ou produtos proibidos, serão acionadas a Polícia e a Receita Federal.

 

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Mala passando pelo arco de leitura. Foto: Viagem News

 

Passada a etapa de inspeção e identificação, as bagagens chegarão à área denominada “in feed”, que significa o final de cada linha de transporte das bagagens. Ali elas são direcionadas ao “sorter”, equipamento com capacidade de processamento de 6.000 bandejas por hora e que faz a separação automática das bagagens contidas nessas bandejas feitas de bambu recicláveis. A partir do momento em que a bagagem ocupa uma dessas bandejas, o equipamento já reconhece para onde ela deve seguir, até ela ser despejada no “chute”, esteiras em formato espiral, alocadas pelas companhias aéreas.

 

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Sorter. Fotos: Viagem News

 

Assim que a bagagem desce pelo chute e atinge a esteira principal, a equipe de manuseio de solo dá uma última conferida na etiqueta para verificar se a bagagem pertence àquele voo, e em seguida a armazena no contêiner do tipo AKE, um contêiner de metade do tamanho do convés inferior da aeronave e que permite múltiplas configurações.

 

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Bagagens alocadas no contêiner AKE. Foto: Viagem News

 

As bagagens serão entregues com até 4 horas de antecedência do voo no chute de destino. As que superarem esse período de 4 horas serão colocadas em uma área de espera denominada EBS, Early Baggage Store, armazenamento de bagagem antecipada, em tradução literal, até entrarem no horário permitido, quando serão novamente direcionadas ao sorter que as encaminhará novamente aos chutes de destinos. Ou seja, se um passageiro despachar sua mala 5 horas antes do seu voo, a bagagem ficará armazenada até que faltem 4 horas para o voo. Por exemplo, o passageiro tem um voo às 11h e despachou sua mala às 5h. A mala ficará armazenada na EBS até às 7h, quando só então, poderá retornar ao sorter e seguir para o chute de destino.

 

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Sorter despejando a mala no EBS. Foto: Viagem News

 

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Bagagens armazenadas no EBS. Foto: Viagem News 

 

Na EBS as bagagens também só podem ser armazenadas por 4h antes da abertura dos chutes, por isso, é que os check-ins para despacho de bagagem somente são abertos 8h antes do horário do voo.

 

Existem 20 posições de chutes no Terminal 3 e uma área de exceção para bagagens que tiveram algum problema durante a triagem, como algum empecilho na leitura da etiqueta, ou alguma outra situação que possa ter acarretado o desvio da bagagem.

 

Sistema Bag Manager da SITA – Cada contêiner com as bagagens contém uma Folha de Contêiner com um código de barras que determina qual o tipo de bagagem será carregada no contêiner ou na carreta. Dessa forma, quando o operador escaneia o código de barras, a regra para aquele tipo de bagagem será capturada pelo scanner, e para qualquer outra bagagem que estiver de acordo com aquela regra, o scanner emitirá uma mensagem na cor verde e um bip sonoro, se for uma bagagem diferenciada, a mensagem aparecerá na cor vermelha impedindo o carregamento daquela bagagem. A finalidade desse sistema é: 1) Impedir que a bagagem seja extraviada, ou deixada para trás porque o sistema da SITA informa na tela quantas bagagens já foram carregadas e quantas faltam ser carregadas para aquele voo; 2) Impedir que a bagagem seja acomodada de maneira errada. Ex.: As pessoas que são PRIO (passageiros Business Class) e FIRST (passageiros First Class ) contam com um contêiner diferenciado que serão os últimos a serem carregados na aeronave porque no aeroporto de destino, eles serão os primeiros a serem descarregados e as bagagens desses passageiros preferenciais serão disponibilizadas em primeiro na esteira de bagagens.

 

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Escaner de leitura da Folha de Contêiner. Foto: Viagem News

 

Outra finalidade do sistema bag manager é localizar automaticamente as malas. Quando um passageiro por algum contratempo não pode ser embarcado na aeronave, por legislação, a mala do passageiro não pode seguir sem ele. Então, quando é solicitada a retirada de uma determinada mala, o operador do handling ou da companhia aérea irá digitar o código da mala e logo aparecerá no sistema a sua localização exata, em qual contêiner ela se encontra e qual o número dela na ordem em que foi alocada.

 

A armazenagem das bagagens no contêiner é feita de maneira ordenada seguindo protocolos de um dos tipos de técnicas de armazenamento utilizadas, por exemplos, o paredão, o fatiamento. Isso serve para que uma determinada bagagem seja facilmente localizada em caso de necessidade, o que seria muito difícil de se fazer caso o armazenamento fosse feito de maneira aleatória.

 

Por fim, após as bagagens serem alocadas nos contêineres e carretas, elas são levadas até a aeronave e com o emprego do loader (carregador) são finalmente embarcadas. Normalmente num avião com porões dianteiro e traseiro, as bagagens dos passageiros vão no porão traseiro enquanto o porão dianteiro é destinado aos produtos eletrônicos e produtos em geral. Animais vivos, esquifes, armas, malotes diplomáticos, cadeiras de rodas, são carregados no último compartimento da aeronave chamado de Bulk. “Esses tipos de cargas nunca são colocadas no porão da aeronave junto com as bagagens”, informou Carlos.

 

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Contêineres sendo carregados no porão dianteiro. Foto: Viagem News

 

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Loader carregando contêineres contendo bagagens no porão traseiro da aeronave. Foto: Viagem News

 

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No detalhe em destaque, o chamado Bulk. Foto: Viagem News

 

Apesar de todo esse elevado nível de segurança no manuseio de bagagens, que ainda conta com a vigilância e controle do CCO - Centro de Controle Operacional GRU Airport, ainda podem ocorrer extravios ou pode ocorrer da bagagem ser enviada para outro voo indo acabar em outro destino. O especialista em operações e serviços da SITA diz que apesar de isso ser difícil de acontecer, não há como ter um nível de segurança que chegue a 100% de efetividade; e além disso, ele conta que muitas vezes o próprio passageiro é o culpado pelo extravio por não colocar a etiqueta de bagagem da maneira correta, o que pode ocasionar seu desprendimento e ela cair pelo caminho, ou não poder ser lida pelo leitor de códigos de barras por algum motivo.

 

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Uma das alas do CCO - Centro de Controle Operacional GRU Airport. Foto: Viagem News

 

Agora que você já sabe o que acontece com a tua bagagem depois que ela foi despachada, é só escolher o teu próximo destino e arrumar a mala para a tua próxima viagem, lembrando-se sempre de fixar a etiqueta de bagagem de maneira correta no momento de despachá-la.

 

Assista ao vídeo para ver como é feito todo o processo de despacho e inspeção da bagagem até que ela seja carregada no avião:

 

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